Necessário deixar claro que o compromisso com a escrita na internet não é uma falta de opção, muito pelo contrário. É exatamente a grande opção. Posto, logo existo.
Na contramão, à margem da “mídia oficial”, a internet atualmente se apresenta como o mais democrático acesso às pluralidades. Neste sentido, é mais um espaço – poderosíssimo por sinal – de representação.
Em contraponto a uma sociedade que estigmatiza, silencia e que só viabiliza a existência de lésbicas dentro de determinados padrões, a literatura lésbica na internet dá voz e possibilita espaços de identificação, compreensão e construção de si e da vinculação com as outras, através de narrativas (ficcionais ou não) que discorrem sobre vivências (cotidianas ou não) de mulheres que vivem as suas afetividades ou sexualidades centradas em outras mulheres.
Inúmeros sites e blogs oferecem livre acesso e livre expressão, aliando visibilidade e interatividade e se consolidando como espaços de autoafirmação de uma suposta “identidade lésbica”, que busca romper a clandestinidade através da apropriação das redes de comunicação digitais e sua possibilidade de publicização discursiva através de canais midiáticos “alternativos”.
A literatura na internet persegue a mais bela das prioridades: as trocas de experiência em um espaço público que viabiliza o acesso aos discursos e às obras sem censura ou distinção, dando voz àquelas para quem a “literatura legitimada” é por muitas vezes inatingível.
Necessário deixar claro que o compromisso com a escrita na internet não é uma falta de opção, muito pelo contrário. É exatamente a grande opção.
Entretanto, ao mesmo tempo em que a internet proporciona uma forma prazerosa, lúdica e libertária de escrita, deve ser encarada de maneira responsável e sensata, uma vez que é um canal de comunicação excessivamente direto e explícito.
O diálogo que se estabelece é intenso e instantâneo. Ninguém vai perder seu tempo lendo, comentando e acompanhando se não se identificar imediatamente com o conteúdo.
De acordo com Gisele Marchiori Nussbaumer, a internet permeia tanto a necessidade de alguns se esconderem atrás da tela, quanto a de se fazerem visíveis através dela, às vezes para poderem revelar aspectos de suas vidas que nem sempre são vivenciados em plenitude, o que é bastante comum quando se trata do universo lésbico.
No caso da literatura lésbica, especificamente, a internet serve não só para traduzir, dar voz e tornar visível diversas realidades – e dificuldades – de mulheres que vivem as suas afetividades ou sexualidades centradas em outras mulheres, mas também para possibilitar o diálogo, através da identificação ou até mesmo do estranhamento com as narrativas.
A escrita na internet é um instrumento revolucionário e como tal devemos usá-lo. A internet – como espaço provocativo e propositivo – é uma ferramenta potente na luta de empoderamento e visibilidade.