Em Jurema Sagrada, especial do mês de setembro, Suzy Okamoto e Rafael Avancini contam a trajetória que percorreram entre juremeiros, babalorixás, yalorixás, ekedjis, Tabajaras e artistas à sombra das árvores e na vibração dos maracás em João Pessoa na Paraíba.
Tupi, or not tupi that is the question.
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Catiti Catiti
Imara Notiá
Notiá Imara
Ipeju
[Manifesto Antropófago – Oswald de Andrade]1
A Jurema Sagrada, também conhecida como Catimbó, é um culto mágico-religioso, mistura de pajelança com catolicismo, permeado pelo candomblé e feitiçaria europeia. Sua história que data do século XVI é cercada de clandestinidade e repressões. Imagem do mais alto grau de sincretismo cultural, o culto permanece vivo até hoje especialmente nos estados da Paraíba, Pernambuco e Rio Grande do Norte.
Composta de segredos, parábolas, metáforas e símbolos, o Culto da Jurema, seus ritos – adjunto de jurema, jurema de chão, toque de jurema, toré de jurema – e suas músicas desafiam uma pesquisa definitiva. Ainda que Mário de Andrade, em Música de feitiçaria no Brasil e Câmara Cascudo, em Meleagro, se apresentem aqui como fiéis escudeiros, os enganos e deduções precipitadas sobre o assunto nos espreitam.
Se podemos encontrar um fio da meada neste contexto erudito é o fato da jurema ser movediça e rizomática. Jurema é uma árvore-talismã, Jurema é uma cidade de seres encantados e espíritos curandeiros, Jurema é ciência, Jurema é um enteógeno, Jurema é êxtase, Jurema é uma mulher, poderosa e cheia de sortilégios.
“Para nós, tal justaposição da magia fantástica com o agir objetivo referido a finalidade parece sintoma da cisão, mas para os índios nao ė algo esquizoide, ao contrario, é uma experiência libertadora e patente da ilimitada possibilidade de relação com o mundo ao redor”” (Aby Warburg)
Isto posto, o que vamos contar aqui NoBrasil é a trajetória que percorremos entre juremeiros, babalorixás, yalorixás, ekedjis, Tabajaras e artistas à sombra das árvores do Templo Espírita de Jurema Mestra Jardecilha (em Alhandra), sob a afável oca da Aldeia Barra do Gramame (em Conde), na vibração dos maracás no Templo Espirita de Umbanda Acácio Valério e ao toque do tambor no Ile Asé Odé Ibualama (ambos em João Pessoa).
Esta pesquisa-experiência foi realizada durante a residência artística na Arapuca ArteResidencia de Serge Huot, sob a curadoria de Carlos Mélo, em julho de 2016, na paradisíaca Área de Proteção Ambiental Estadual de Tambaba, município de Conde, Estado da Paraíba e teve o apoio da Fundação Espaço Cultural do Estado da Paraíba, sob o cuidadoso olhar de Edilson Parra.